sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dactilogafia I

Se tu me dactilografares, com qualquer que seja o dedo, ou até mesmo tua mão, esteja ela cerrada ou espalmada, estarei e serei contra a maré. Seja mínimo, anular, médio, indicador, polegar, palma, punho ou unha, o registro da impressão será indelével: seu afastamento máximo, incapaz de sobrepujar a (im)permebeabilidade da epiderme, irá flanar nas franjas. A fluidez do cânone e sua face, repentinamente, tornar-se-ão ásperas e rígidas pelo vínculo entre corpo e mente.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sem título (continuação II)

O conjunto de fendas abertas entoava um som, o enunciado do epílogo ou a anunciação do prólogo. A rota descendente continua a ser definida pela intermitência, uma sensação de infinitude e de nunca chegada à linha ou ponto esperados. Toda a leviandade era e é necessária para evadir dos fecundos arranhões e choques que ainda esquadrinham os torrões já percorridos e os que serão encontrados à frente. O espaço e tempo ainda não se deram por desvanecidos pela articulação que geraram na terra da desrama.

(continua?)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Sem título (continuação)

Enrolado em um suporte movediço, anseava a exumação daquilo que ainda era factível. Afinal, o tempo de entrada e residência sempre foram problemas minimizados, porém, vieram à superfície, desnudados do véu da tolice, maximizados. A resistência passiva ruiu pelas insistentes bordoadas em toda sua extensão.

(continua)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sem título

Quando tentei aprender outras coisas, quase esqueci a maior parcela das outras. Esses saberes, se for possível chamá-los assim, eram ou são quase osmóticos. O solvente e o soluto se dão entremeados, o primeiro asssume a condição anfiprótica, o segundo, a condição infausta. Havia e há, por esses tempos, uma refração dos limiares absoluto e diferencial. A excitação, capaz de sensibilizar, se sublima do bloco tangível para a nuvem volúvel.

(continua)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Na sala (sujeito a alterações)

Enquanto pensava se perguntava ou não, alternava a execução de músicas e discos no reprodutor de mídia. Não sabia nada, a única informação que tinha era apenas a experiência do tempo passado. Arriscou, por mais que houvesse algum dano, nenhum poderia ser tão ruim que não conseguisse se recuperar. A dúdiva se encerrou e tudo que tinha possibilidade de ser um pequeno terremoto converteu-se em ainda menos: um ligeiro anúncio de algo que poderia (ser) mas que nada mais (seria) viria a ser (seria). Ainda recebeu um tranqüilizante, tudo isso era muito normal, não havia sido o(a) único(a) a passar pelo que passou. Mesmo assim, desculpou-se e contornou o embuste, distorcendo constrangimento em diversão. Segundos depois o esclarecedor se dissipou, uma sensação de incompletude e abreviação forçadas ancoraram-se nele(a). Nada mais incômodo que pudesse lhe ser ofertado surtiria tal efeito, deste momento em diante percebeu que tudo fora originado de apenas uma palavra: ter. Não que não tivesse, sim, tinha. Porém, aquele ter conjugado no presente do indicativo havia sido usado como uma forma oculta de lidar com o assunto. Deu-se por conta de que nada que havia dito tinha validade para com o outro. Preferiu ficar em silêncio, remoendo a si próprio(a), afligindo os próprios pensamentos com algo extremamente simplório porque isto já era um costume que se enraizava cada dia mais. Nos próximos dias acordaria pensando, ficaria com uma expressão murcha diante do espelho, e infelizmente, ao invés de perder a fome seria ainda mais prejudicado(a), pois era daqueles(as) que incomodados(as) comiam ainda mais, sempre tentando disfarçar suas frustrações, fossem elas visíveis a olho nu ou não.

Na cozinha (sujeito a alterações)

Uma das primeiras coisas que ela disse, durante o café da manhã, soou um tanto amarga e outro tanto cômica. Família só é bonita em porta-retratos. Logo veio uma explicação, repleta de comparações e exemplos. É, pois com toda a tecnologia, computador, apesar deles estarem longe, continuam falando, enviando e-mails, mensagens, etc. Um pouco de silêncio e apenas alguns estalidos ocasionados pelos encontros das xícaras com os pires. Nem em porta-retratos, pensando bem, só em álbuns. Arrecadei a xícara, o pires e o prato que usara e os coloquei dentro da pia. Todos meus álbuns ficam guardados, empilhados, sem ter de passar por um porta-retratos e ver uma foto que não quero ver, dentro de uma grande gaveta. Abri a torneira e deixei a água lamber as superfícies sujas, enquanto bocejava e estalejava o corpo recém desperto, apoiado ao balcão. Assim, se eu tenho um parente que não quero ver, que tenho vergonha, como um parente negro, negrinho, ou rasgo a foto e coloco no lixo ou então coloco em um álbum e o deixo engavetado. Deixei que ela falasse um pouco mais: fiquei sem escutar muito e falar menos ainda.